Casamento na Terceira Idade: um fenômeno em crescimento no Brasil

Com o aumento da expectativa de vida e mudanças nas percepções sobre o envelhecimento, mais idosos estão redescobrindo o amor e oficializando suas uniões após os 60 anos
Por Patrícia Esteves

Nos últimos anos, o aumento dos chamados “casamentos grisalhos” — uniões celebradas na terceira idade — tem sido uma tendência notável no Brasil, impulsionada pelo envelhecimento da população e por mudanças culturais e comportamentais.

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam que, em 2022, foram registrados 74.798 casamentos entre pessoas com mais de 60 anos, um crescimento de 23,5% desde 2018. Essa alta reflete uma transformação na forma como o casamento e o amor são vistos durante a maturidade.

Especialistas apontam que esse fenômeno está atrelado ao aumento da expectativa de vida, que passou de 65,3 anos em 1990 para 76,4 anos em 2023, com projeção de alcançar 83,9 anos em 2070. Com mais saúde e longevidade, muitos idosos estão reconstruindo suas vidas afetivas e buscando novas experiências, enxergando essa fase como uma etapa de renovação, não mais de declínio.

O casamento na terceira idade pode trazer benefícios tanto emocionais quanto físicos. As relações afetivas nessa fase ajudam a lidar com perdas e podem diminuir os riscos de depressão e ansiedade. Além disso, a companhia de um parceiro contribui para hábitos de vida mais saudáveis e uma rotina equilibrada, promovendo bem-estar.

Entretanto, o casamento não deve ser visto como solução simples para a solidão. É fundamental que a união seja baseada em um vínculo emocional genuíno, com objetivos e interesses comuns, para que possa ser uma fonte de renovação e satisfação.

Outro ponto relevante é a diferença de gênero nos casamentos na terceira idade. Homens tendem a se casar mais do que as mulheres nessa faixa etária. Em 2022, 5,37% dos casamentos envolviam homens com mais de 60 anos, enquanto entre as mulheres esse número foi de 2,55%. Essa discrepância é atribuída a fatores culturais, como a maior facilidade dos homens em reconstruir suas vidas afetivas após a viuvez ou o divórcio, enquanto muitas mulheres dessa idade preferem se concentrar em atividades sociais e familiares, priorizando a liberdade e a autonomia conquistadas.

Além dos casamentos heterossexuais, há também um aumento significativo nas uniões homoafetivas entre idosos. Entre 2013 e 2022, o número de casamentos homoafetivos entre pessoas com mais de 60 anos quase dobrou, refletindo uma maior aceitação social e a busca por direitos civis igualitários. Esses casamentos muitas vezes simbolizam a superação de décadas de preconceito e invisibilidade, sendo uma forma de garantir proteção legal e afirmar publicamente relações que, em muitos casos, foram mantidas em segredo por anos.

O envelhecimento da população e a ressignificação da velhice estão criando novas dinâmicas sociais, onde o casamento, na maturidade, se consolida como uma oportunidade para compartilhar vivências e explorar novas possibilidades afetivas e emocionais.

Com informações da BBC Brasil – Foto pixabay

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